Com quase três horas de duração, não seria bem exagero falar que o novo "Batman", tem mais ou menos dois filmes dentro de si.
Na primeira metade, a nova versão do homem-morcego com Robert Pattinson (de "O farol", mas mais conhecido pela saga "Crepúsculo") com o capuz e a capa, é uma das melhores adaptações da estética e da linguagem dos gibis.
A narração afetada, a história com idas e vindas pontuais, mas certeiras, os cenários que retratam um mundo fictício muito vivo. Tudo lembra capítulos mais memoráveis do herói da DC nos quadrinhos e graphic novels (as obras mais fechadas e, muitas vezes, mais "adultas" do personagem).
Já a parte final é uma grande representação de uma das maiores características do diretor Matt Reeves (dos últimos dois filmes da trilogia "Planeta dos macacos").
Ao assumir a quarta versão cinematográfica do Batman e dividir o roteiro com Peter Craig ("Bad Boys para sempre"), o cineasta mostra seu talento em construir filmes com visuais e narrativa atraentes. Ao mesmo tempo, esses filmes parecem não saber muito bem para onde ir, com conclusões arrastadas e até frustrantes.
"Batman" serve como um recomeço – sim, mais uma vez – para o personagem nos cinemas. Pelo menos não é outra história de origem, com um homem-morcego já estabelecido em sua luta contra o crime na cidade de Gotham. O público finalmente é poupado de mais uma cena de um colar de pérolas partido em câmera lenta em um beco escuro.
Com a investigação de uma série de mortes cometidas por um assassino serial que deixa pistas para o protagonista sob a alcunha de Charada (Paul Dano), o enredo constrói uma boa desculpa para trazer um dos fundamentos do personagem menos retratados nos cinemas.
Este é, afinal, o maior detetive do mundo (dos quadrinhos da DC).
Por outro lado, fãs das HQs podem estranhar as mudanças no vilão, que abandona sua origem cerebral de gênio do crime para vestir uma roupagem mais parecida a de psicopatas violentos como o de "Seven - Os sete crimes capitais" (1995).
Infelizmente, isso tem um custo, com um Bruce Wayne, o alter ego do herói, mais nas sombras do que o próprio Cavaleiro das Trevas.
Isso até ajuda a esquecer um pouco o fato de que o personagem é, no fim das contas, um bilionário que bota armadura para esmurrar criminosos sem consequências, mas também enfraquece um ponto importante do plano mirabolante (e um pouco tonto) do antagonista.
O filme tem elementos bons o suficiente para garantir o futuro para mais uma franquia, só precisa aprender com seus erros – pelo menos ele tem tempo de sobra para isso.
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