Advogado deixa herança de R$ 16,4 milhões para hospitais de tratamento de câncer.

 


    Quem leu o obituário de Orlando Di Giacomo Filho, de 72 anos de idade, nas notas do mundo jurídico em 2012, soube da morte de um homem bem-sucedido à frente do escritório Demarest e em posições de prestígio na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo. Mas só agora, em dezembro de 2021, um último grande gesto veio a público: duas generosa doações de R$ 8,2 milhões deixados ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e ao Hospital Sírio-Libanês.

    O dinheiro só foi recebido depois da conclusão do inventário, em 2019. Di Giacomo Filho se tratou por três anos no Hospital Sírio-Libanês para um tumor no pulmão. Somados, os valores são equivalentes a 90% de todos os bens do advogado. Os outros 10% foram divididos entre afilhados e pessoas próximas, já que ele não era casado e nem tinha filhos.

Ato de sensibilidade

Pessoas próximas ao advogado contaram que ele decidiu doar quase todo o patrimônio que tinha depois de conhecer de perto a realidade dos pacientes oncológicos. Nos três últimos anos de vida, Di Giacomo Filho enfrentou um câncer de pulmão que veio a ser fatal. O médico Paulo Hoff, oncologista no Sírio-Libanês e diretor-geral do Icesp foi uma das pessoas que mais conviveram com ele durante o período.

    Ainda assim, ele disse ter sido pego de surpresa pelo ato de generosidade. “Ele era um paciente agradável, bom de conversa. Demonstrava curiosidade pelos tratamentos e preocupação social, mas nunca revelou que faria um gesto dessa magnitude”, declarou entrevista ao Estado de São Paulo.

    Mas uma pessoa sabia desse último desejo e cuidou para que fosse realizado: Altamiro Boscoli, amigo e colega de trabalho de Orlando Di Giacomo Filho por 47 anos. Foi ele, ao lado da esposa, quem acompanhou Orlando nos últimos dias de vida. “Éramos quase irmãos. Orlando era extremamente cordial; vivia para cultivar amigos”, lembrou também ao Estado de São Paulo.

    Altamiro conta que o próprio aniversário naquele 2012 foi um dia mais triste, já que foi a data em que perdeu o amigo. “Um dia ficamos animados porque ele conseguiu sair da cama e caminhar até a poltrona. Disse que iríamos brindar. Comprei um bom vinho italiano e levei para ele, mas não deu tempo”, lamentou. Ainda assim, Orlando se fez presente nas benesses deixadas para outros pacientes de câncer.

Em boa hora

    Paulo Hoff, conta que o dinheiro chegou em boa hora ao Icesp. De acordo com ele, o prédio sede do hospital foi construído a cerca de 30 anos e precisava de reformas estruturais para garantir a segurança de todos que vão ao local. A doação foi usada para troca do revestimento externo, reforma de auditórios e outras necessidades urgentes.

    “A realidade brasileira é de apertos orçamentários", diz Hoff. "É difícil conseguir recurso público para trocar fachada, embora a obra fosse necessária. Como houve essa benesse, pudemos realizá-la sem ter de mexer no orçamento destinado ao tratamento dos pacientes”, explica o gestor.

    Segundo ele, casos assim não costumam ocorrer com frequência. “Esse tipo de doação é raro no Brasil. Vivemos em um país muito desigual. Quem tem alguma sobra no orçamento pode ajudar a melhorar a vida dos brasileiros”, incentivou o médico. No Sírio-Libanês, o dinheiro serviu para financiar projetos de pesquisa sobre câncer. A instituição financia experimentos que buscam novas formas de detectar ou tratar tumores.

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