Se nós partirmos do princípio de que ninguém nasce com preceitos morais internalizados, temos que admitir que é pela educação que o indivíduo tem a chance de construir sua personalidade moral E em uma sociedade competitiva e individualista como a que vivemos, pode parecer utopia aspirar por valores como a justiça, baseados na reciprocidade e no compromisso pessoal. Assistimos todos os dias ao retrato de um país que esqueceu esse “princípio da vida”. Nem é preciso dizer quem mais sofre com esse descompromisso. Nesse descompasso, patologias sociais como as desigualdades e a corrupção se proliferam ficando cada vez mais aguçando a crise dos valores morais e sociais. E isso atinge a humanidade, de modo geral.
A ética supõe-se a necessidade da reflexão sobre valores sociais em meio a crise estabelecida reduzida ao individualismo e à competitividade, por isso, se torna necessário, mais do que nunca, uma preocupação com o social. Sim, porque a crise da Humanidade é uma crise moral. Evidencia-se aqui, a falta de ética nos vários âmbitos. A discussão sobre a justiça social é também uma discussão moral, admitindo que os valores das ações sociais estejam deturpados devido à lógica do sistema vigente. Bem e mal, certo e errado, justo e injusto cederam lugar ao sentimento de sobrevivência, do “salva-se quem puder” ou do interesse pessoal e particular numa sociedade exploradora, que mascara a liberdade, condição fundamental para a realização de ações morais.
Ademais, vivemos em uma sociedade globalizada, onde o mundo se tornou uma grande aldeia global. Em época alguma se atingiu um nível de inter-relacionamento que nos permitisse falar em um mercado mundial que determina a produção, a distribuição e o consumo de bens, e em uma cultura da virtualidade real, que liga todos os pontos do globo e influencia comportamentos. E em meio a esse processo fala-se ainda de uma “ética do mercado”.
Em meio a todos estes aspectos sociais e globais, faz-se necessário que cada ser humano esteja consciente de que não bastam as reflexões, é preciso mudar conceitos, ter condutas condizentes com o que harmoniza a sociedade em todos os seus segmentos. Não se pode desconsiderar que, tanto no âmbito das relações humanas, quanto no político, econômico, enfim, social, constantemente são feitos julgamentos de forma moral. Basta observar que um grande espaço nas discussões entre amigos, na família ou no trabalho abrange aqueles sentimentos que pressupõem juízos morais: indignação, rancor, sentimentos de culpa e vergonha. Também no domínio político julga-se moralmente de forma contínua, e valeria a pena considerar que aparência teria uma disputa política não conduzida pelo menos por categorias morais.
Contudo, não há receitas para o agir bem: o compromisso consigo, com os outros, com as novas gerações exige um estado de alerta constante. Viver sob os moldes da moral não é tarefa simples nem fácil, mas há a possibilidade de participar de um mundo moral. E o que podemos tirar de lição é que os problemas éticos presenciados na atualidade não vão se resolver apenas por tentativas isoladas de educação ou instrução ética dos indivíduos. É preciso vontade individual e política de alterar as condições sociais geradores das mazelas sociais como a violência, a corrupção, a exploração, vicissitudes dos que estão à margem da sociedade. Em outras palavras: não basta “reformar o indivíduo” para “reformar a sociedade”; é preciso reformar a ambos. Um projeto moral desligado de um projeto político sucumbiria ao fracasso. Os dois processos caminham juntos, pois formar o ser humano plenamente moral, ético, só é possível na sociedade que também se esforça para ser justa e democrática, com direitos igualitários a todos, sem exceção.
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