A paralisação dos magistrados federais provocou tédio e espanto. Foi tediosa porque os grevistas construíram toda uma linha de vai e vem, bem protegida por reticências, para dizer que “não é apenas pelo auxílio-moradia” de R$ 4.377. Espantou porque, com o país à beira do abismo, os juízes decidiram pisar no sabonete.
Por uma trapaça da fortuna, os doutores escorregaram justamente no dia em que o Brasil se revoltou com o penúltimo atentado contra o Estado de Direito cometido no Rio de Janeiro. Na noite da véspera, a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes haviam sido fuzilados. Um desafio às autoridades que conduzem a intervenção federal no Rio.
Há no Brasil 1.796 magistrados federais. Estima-se que algo como 800 cruzaram os braços. Os juízes da Lava Jato se abstiveram de participar. Na Justiça do Trabalho, 44% das Varas em todo o país interromperam suas atividades. Os grevistas fizeram de tudo para prevalecer como o centro das atenções por um dia. Mas tudo não quis nada com eles.
Marcado para 22 de março, o julgamento da legalidade do auxílio-moradia continua na pauta do Supremo Tribunal Federal. Se a Corte tiver juízo, limitará o benefício aos juízes que forem transferido de comarca, vetando-o para os que tiverem casa própria. A falta de caixa impede a concessão de reajustes salariais.
Quer dizer: não é nada, não é nada, a greve dos juízes não resultou em nada mesmo. Ou, por outra, os doutores fizeram jus, no final do dia, ao Troféu Mundo da Lua. Não fosse pelo trabalho das Varas que se ocupam da Lava Jato no Paraná, no Rio e em Brasília, talvez não recebessem nem “bom dia”.
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