A estratégia de pular refeições para turbinar os exercícios físicos está ganhando popularidade. Entenda se isso traz ou não benefícios à saúde...
Os estudos mostram que o jejum está associado à ativação do sistema simpático. Explico: o tal sistema simpático prepara nosso organismo para fugir ou lutar. Ou seja, se a falta de comida coloca o corpo em estado de alerta, é razoável imaginar que praticar karatê de estômago vazio melhoraria o desempenho, certo?
Pois é, mas na verdade o jejum atrapalha. As lutas não envolvem apenas força e agressividade, como animais famintos brigando pela presa. Pelo contrário: ela exige estratégia e racionalidade.
Quando um judoca ou qualquer outro lutador entra num embate, ele analisa os movimentos do adversário e se move de acordo com as fragilidades do oponente. Quando estamos em jejum, comprometemos nossa racionalidade e agimos instintivamente – nós estimulamos nosso lado bicho e enfraquecemos o lado racional.
Lembre-se de como você se comporta quando está com fome. Nós perdemos a linha facilmente e perdemos a capacidade de dialogar. Dentro ou fora de uma luta, não é bom ficar assim.
Para além das artes marciais
A piora não se resume a esse tipo de prática esportiva. E um exemplo vem de um artigo de Neves, no Laboratório de Nutrição da USP. Em seu estudo, Neves mostrou que o exercício em jejum compromete a capacidade de treinamento e de força.
Nesse caso, o treinamento era intenso e voltado para o ganho de massa muscular. Resultado: o longo período sem comer abalou a adaptação do corpo aos estímulos do exercício físico. O jejum, portanto, afeta a racionalidade… E joga contra a malhação.
E para emagrecer, o jejum ajuda?
Acordar, tomar um banho, vestir-se e ir para o trabalho sem abrir a geladeira ajuda a emagrece mais? A resposta é, novamente, não.
Os primeiros estudos sobre o tema indicaram que o jejum disponibiliza mais gordura para ser queimada. E isso de fato ocorre. Porém, é como se mil pessoas fossem a sua casa para um churrasco trazendo um pacote de carne nas mãos (a gordura), mas você só tivesse uma churrasqueira de camping.
Dentro do corpo, essa churrasqueira se chama mitocôndria. Localizada no interior da célula, ela queima as fontes de energia. Mas não adianta ter um monte de gordura livre se a as mitocôndrias não as queimam a tempo. E elas, não importa o tamanho e a quantidade, não tem fôlego para lidar com a dose extra de gordura que é disponibilizada pelo jejum. Logo, os pneus seguem na mesma.
Some a isso o fato de que o jejum tira nossa racionalidade – favorecendo episódios de comilança extrema – e você já percebe que dificilmente o sofrimento de pular refeições termina em emagrecimento (no longo prazo, claro). É óbvio que, quando você ingere menos calorias, tende a perder peso. Mas é possível (e recomendável) fazer isso sem abdicar do café, do almoço ou do jantar. Isso é um cardápio equilibrado.
O jejum, presente em diversas doutrinas e religiões, possui seu apelo como crença, fé etc. Aqui não cabe discussão, apenas respeito. Agora, se o objetivo é emagrecer, treinar e ficar forte, lembre-se: ele não é nosso aliado.
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